segunda-feira, 27 de abril de 2020

O DIA “D” DUM ARMAZÉM DE SUCESSO



Armazém Paraíba em Bacabal, 1958, 1ª Loja do Grupo Claudino
Bacabal do Maranhão. Sábado, 19 de julho de 1958. A singela pracinha de Santa Teresinha, hoje chamada Praça Silva Neto, bem no centro do antigo e bem falado Bacabal de outrora, acolhe uma aglomeração de pessoas, que disputam espaço entre os tabuleiros de tecidos, confecções e eletrodomésticos. A casa é alta e a fachada, de cor creme, ainda fresca, impregna os traços de uma usina de arroz. As paredes elevadas e fornidas de adobe, o reboco forte e a tinta nova, dão ao prédio um aspecto renovado e imponente perante outras casas comerciais da cidade. As portas, largas, se agigantam para cima, assim como as paredes, com suas beiradas e detalhes brancos em alto relevo a subir rumo ao céu, e lá em cima, ao centro, o desenho de uma estrela, numa profecia simbólica de que ali nascia uma estrela mercantil nos céus da nossa querida Bacabal. Daí ganharia depois outras dimensões.
Tinha uns sessenta dias atrás que aquelas portas eram apenas um dos três galpões da Usina Dois Irmãos, alugado que fora para fins logísticos de ofertar ao Vale do Mearim o que os homens da cidade e as donas de casa precisavam, como fazendas e máquinas de costura, “roupas feitas”, cadeiras de macarrão, bicicletas, colchões, entre outros produtos bem característicos dum tempo em que nossa Bacabal alçava voo nos “Anos dourados” dos fins dos anos 50.
 Agora estava sendo inaugurada na cidade uma nova opção de empório, o Armazém Paraíba, cuja inscrição na parede era uma clara referência às origens de saída e determinação dos seus proprietários para cá, ao Mearim. Chegaram. Estabeleceram-se. E o momento era muito diferenciado dos demais comércios e dos tempos da época. O ambiente era alegre, festivo, memorável, bom de comprar e animado para se ver.  Desde cedo do dia, o moleque Nilo Lago já acordara com os estouros dos foguetes. O dia ia ser bom, pois ia ter até corrida de bicicletas do Paraíba até o Ramal, com premiação e tudo mais. Cá fora as paredes da loja se enfeitavam com “cortes” de chita, e lá dentro, no lugar do forro, panos coloridos decoravam o teto largo e fundo do barracão. A ordem para abrir foi dada pelo Seu Joca. Foi o vendedor e propagandista João da Costa Ramos quem abriu. E o fez com muita emoção. O povo entrou. Estava inaugurado o primeiro Armazém Paraíba da história.
Embrenhados na festa, o povo sorria, comprava, bebia e jogava conversa fora e já não queriam ir-se. Os clientes, autoridades e curiosos se sentiam altamente felizes e privilegiados em estar participando da inauguração daquele que, pelo jeito seria o armazém mais popular da cidade. No terreiro, uma camionete de carroceria de madeira e um megafone sobre a cabine anunciava o rasga-rasga de preços baixos, vendas no fiado e produtos da melhor qualidade. Enquanto isso, a pracinha, no inverno alagada, era uma festa só. Gente indo, gente vindo, os homens com suas calças simples e sociais, as mulheres com suas saias longas e fartas, e as crianças vestidinhas de babado ou calçõezinhos curtos. Os homens da roça, alguns com sua senhora a passar a pé ou de bicicleta, e, enxergando pela aba do chapéu, amarram seus animais e entram no empório para ver o que ali se sucede. Moços novos e até moleques encostam sua Monark ou sua Caloi enlameada das paragens e da própria praça sem calçamento, e todos se somam na multidão. O povo é uma curiosidade só, mas já parece afeito à proposta do armazém e seus donos, que ainda desconhecidos da população, se misturam ao povo cheios de carisma e simplicidade. A notícia correra, mas nem a todos alcançou. O fato começa a ser o motivo das conversas nos pés de balcões, à beira do rio, no carregamento de cargas, nas conversas urbanas e rurais e nos caminhos a fora. Bem perto da Rianil, uns “cumpades” cogitam de quem seria o empreendimento; e, ali vizinho, na porta da Souza Cruz e também em frente ao Dr. De Paula, o assunto era o mesmo. Mas quem seria esse comerciante novo que chegou com aquilo tudo? Havia de ter muito dinheiro e coragem. Havia de ter também uma estrela para o negócio. Isso era o que podiam se perguntar os comerciantes das lojas tradicionais. A conversa tanto girou que chegou a um funcionário, o qual assegurou sobre os donos, mostrando entre o povo, os irmãos Valdecy e João Claudino, protagonistas mentores daquele marcante evento. Um deles, o Seu Joca, já se punha perto do megafone para, ele mesmo dar sua colaboração na propaganda inaugural da loja. Ele era assim? Sempre presente, simples e contribuidor? Sim, isso mesmo, teria sido a resposta.
O povo veio, gostou, comprou e foi-se feliz para a sua família contar as boas-novas. Quanto à cidade, essa abraçou com afeto os novos comerciantes vindos de Cajazeiras fazer vida aqui no Mearim. Vieram. Acharam graça em nossa terra e nossa terra neles. Aqui fincaram a pedra fundamental de um grande empreendimento que se consolidaria futuramente passo a passo num grande negócio, com muito trabalho e determinação. O sonho estava se realizando. E muito bem.
Terminada a festa, uma câmera fotográfica eternizou o feito numa foto simples, mas significativa, uma prova rara do momento que seria a inspiração de muitas histórias e combustível para muitas outras lutas e vitórias dos irmãos Claudino, a partir de um singelo armazém fundado em Bacabal, mas denominado Paraíba.
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(Costa Filho,  da Academia Bacabalense de Letras, Cadeira 2)

sexta-feira, 17 de abril de 2020

BACABAL "DOS CEM ANOS" E "DO SEM NADA"


Pracinha do Relógio do Centenário em Bacabal - MA

CEM anos se passaram da fundação desta cidade. Foi em 17 de abril de 1920 que tudo começou oficialmente e a nossa Bacabal permanece SEM muitas coisas óbvias para uma cidade centenária. Lamentável é que às vezes nem o básico se tem. A expressão do título pode até parecer chocante, mas é ceeto que nisso há todo um fundo de verdade.  mas para quem  e m. O tempo ensinou o povo a fazer deste lugar, uma terra amada por quem aqui mora e chega para morar. Bacabal, ao longo de sua história tem sido uma boa hospedeira de todas as raças e tipos humanos. O povo daqui é simples, alegre, generoso e adora uma festa. Não sem razão o cronista Edgar Moreno numa de suas crônicas - Silêncio no "BacaBAR" já deixa uma nuance de um dos hobbies do povo bacabalense. Mas também é um povo trabalhador, que sabe enfrentar a vida com otimismo e esperança.
Uma visão mais realista nos diz que aos 100 anos, Bacabal poderia estar bem mais desenvolvida, todavia desenvolvimento é uma algo que perpassa pela veia política e administrativa. Nos últimos anos ou décadas a cidade tem vividos lados bem antagônicos. Positivamente tem sido instaladas algumas empresas de grande porte como os superados Mateus e Carvalho, algumas concessionárias, fábrica de colchões e ração,entre outros estabelecimentos. Por outro lado, a forma política que vem sendo praticada na cidade ao longo de sua história, sobretudo nos pleitos mais recentes, tem sido prejudicial à cidade e ao seu povo, que tem padecido com a falta de infraestrutura, aumenta da violência e do índice de moradores de rua, falta d'água, aumento da taxa de energia, alagamentos, como o de 2009 e 2020. Ao tempo em que o povo se mostra insatisfeito pelo seu variado "SEM", esse mesmo povo continua teimoso em manter no poder os mesmos grupos, que já demonstraram: não têm muito apreço pelo desenvolvimento da cidade, indo seus interesses ao afunilamento dos sonhos políticos,. Pode se dizer que os gestores têm se esquecido que Bacabal não pé mais uma Vila dos Abreus. Ela, sendo uma princesa, tem ao longo dos anos perdido sua majestade a cidades como Santa Inês, Pedreiras, para lembrar sua excelente posição geográfica que, portanto, poderia explorar melhor esse privilégio. Pedreiras entra aqui, pela boa concorrência comercial e pelo valor cultural aos seus artistas, que em Bacabal essa área tem caído assustadoramente. Nossos gestores precisam acordar que nossa Bacabal não é mais uma princesinha. Ela precisa tomar posse de sua importância no cenário estadual;. Ela agora precisa alargar seu poderio econômico, precisa produzir, se tornar referência de produção, de geração de emprego, voltar a ser referência cultural. Precisamos nos rebelar contra títulos como "Cidade do já teve" e "Terra do já foi". Para quem já chegou próximo ao terceira lugar em importância no Estado, hoje essa importância continua cada dia mais ameaçada, graças à falta de atitude e vontade política de nossos governantes.  Os poderes constituídos, de certa forma têm sido negligentes em suas funções públicas para as quais são eleitas e até envergonhado o povo, ferindo um orgulho de ser bacabalense. Aqui se vê muitas obras paradas, outras abandonadas, falta de transparência e desmandos desde muito tempo. O "Palácio das bacabas" precisa honrar melhor seus compromissos, a Casa dos Edis também precisa rever sua postura enquanto representantes de um povo que os elege para primarem pela melhoria da cidade, mas terminam enveredando por inter3esses próprios e de grupos de poder. 
Efetivamente, Bacabal se encontra num atraso acumulado. A prova dessa falta de vontade política é que em pleno centenário, a fora a pandemia, não tivemos benefício algum que marcasse a data. Isso porque a his6tória mostra que nossos representantes tem se importado muito como poder por poder e quase nada com as funções cabíveis. Sempre podemos fazer alguma coisa pelo desenvolvimento da cidade me que moramos, mas a grande atribuição para isso cabe aos gestores e representantes políticos, pois toda ação governamental ´termina sendo uma ação p´política. 
que isto sirva de reflexão aos donos do poder e aos que assim pretendem em eleições futuras.
MIRANTE BACAS  (Costa Filho)

Daqui posso ver As cores da City
O passar das gentes
O aspecto das ruas
O progresso acanhado
As mulheres seminuas.

Daqui posso ver
Os prédios mui baixos
Uns carros de luxo
Mendigos e drogados
Mandos e desmandos
A politicagem.

Daqui posso ver
O asfalto e o assalto
A notícia e a fake
O povo e o anseio
Por Dona Esperança, como um longo verso
Reverso e sem rima.

ACADEMIA BACABALENSE DE LETRAS LANÇA COLETÂNEA DO CENTENÁRIO DE BACABAL


Coletânea da ABL lançada virtualmente em 16 de abril de 2020
O lançamento
Às vésperas dos 100 anos da “Princesa do Mearim”, a ABL lança a Coletânea da Academia Bacabalense de Letras – Centenário de Bacabal. O evento, discreto, se deu quinta-feira (16), no estúdio da TV Ágape, no centro da cidade para retransmissão no programa Repórter Ágape, da mesma emissora, que vai ao ar aos sábados das 11 horas ao meio dia. Na ocasião, foram entregues em torno de uma dúzia de exemplares aos leitores sorteados, que responderam ao chamado por WhatsApp com a frase “Eu amo Literatura.” Esse tipo de interação virtual representa uma das formas de participação da ABL nas comemorações do Centenário de Bacabal, presenteando alguns leitores e estimulando outros à leitura de nossos autores e da literatura em como um todo. “Num momento nobre e histórico como o do Centenário, a ABL não poderia deixar de cumprir sua nobre função de incentivo à leitura e à escrita” ressalta Costa Filho, membro da instituição.
O lançamento, à distância e virtual também será divulgado e compartilhado em plataformas e redes sociais, já que um evento presencial não está sendo possível em função das medidas de isolamento social motivadas pela pandemia do Coronavírus.

A Coletânea
A Coletânea reúne textos literários em verso e em prosa de membros da ABL, dos quais quatro in memoriam, trazendo uma temática e estilo variados. O prefácio traz a lente de análise do poeta e compositor Samuel Barreto, presidente da Academia Pedreirense de Letras, que traz ao leitor uma prévia e abreviada análise do conjunto da obra. Já o posfácio leva o estilo e interpretação do cronista Edgar Moreno, que convida o leitor a um passeio por uma Bacabal de outrora, acompanhando-o no túnel de variadas épocas e lugares. A arte de capa e designer leva a assinatura da talentosa desenhista Aline Freitas Piauilino, acadêmica da instituição.
A obra, em sua 1ª edição teve uma tiragem de 500 exemplares e pode ser adquirida ao preço de R$ 20,00 junto a algum dos membros.

Uma mensagem abeelina
A ABL se congratula com os leitores e todos os bacabalenses no contexto da obra publicada e do centenário da cidade.


sábado, 28 de março de 2020

17 - O ENCARCERADO (Costa Filho)

Costa Filho - literato
Naquele dia Agamenon acordou tarde. Olhou-se no espelho. Estava mais velho, porém disposto. Era como se tivesse dormido uma eternidade. Cada um tem sua eternidade. E a dele ia fazer uns dois meses. Nem supermercado, nem teatro, nem lugar algum, só em casa, nessa ele se permitia ficar, manhã, tarde e noite. Até o jornaleiro tinha despachado por um tempo. Queria isolar-se na sua chácara. Queria dias longos e noites bem dormidas. Queria fazer de cada dia de sua vida, uma eternidade com qual já se habituara. Como de costume, quase não deixava seu ninho. Seu confortável ninho. Não precisava deixá-lo. Adorava sua própria companhia. Além do mais tinha consigo Carlindo e Joana, um amável casal de serviçais que, morando nos fundos, lhe cuidavam e lhe faziam boa companhia. Vivia no conforto e podia ter tudo o que quisesse, mas preferia a tradição. Detestava as redes sociais e por extensão, as tecnologias, até o mais óbvio: a televisão.  Até o radinho de ondas curtas perdeu a voz. A vez agora era dele, com sua vida peculiar. Ultimamente, se isolara mais ainda do mundo exterior, socando-se nos seus livros de papel e nos seus escritos sem fim. Tudo naturalmente. Essa era uma escolha que o deixava feliz.  
Agora acordara uma vez mais, e já não sabia nada do mundo, nem sobre as notícias recentes. Não sabia de nada lá fora, nem tinha pressa por isso. Sua única pressa e notícias que o interessavam naquele momento estava na caixa postal do correio e nas cartas que mais tarde iria postar.  Vestiu-se como um inglês e saiu em seu calhambeque, repleto mais de zelo e estilo, do que de ostentação, logo, isso não o envaidecia. Não era nada, além do que o usufruto de sua vida de trabalho na juventude.
Saiu rua a fora. O primeiro impacto estava na primeira esquina, na segunda, na terceira, em todas as esquinas. E continuava o suspense, nas ruas vazias, nas portas cerradas, nos sobrados tristes, na cidade fantasma. Os semáforos reclamavam o movimento infernal dos veículos e transeuntes a disputar um mesmo espaço; os consultórios, cafés, shoppings, parques e paradas jaziam sozinhos e calados. Não tinha o artista de rua, nem o vendedor de balas, não havia ricos, nem mendigos nas calçadas, nem nas praças. Era tudo um cenário ermo, enigmático, mas sobretudo, estranho. Aquilo havia de ser ilusão, um sonho, qualquer coisa, menos uma verdade. Mas a verdade logo veio se comprovar quando uma viatura lhe passou averiguando os modos e lhe acusando com um olhar repreensível. Estranhou que os homens da lei lhe parecessem uns terroristas, pois levavam no rosto uma espécie de capuz curto. Pela primeira vez, teve medo. Manteve a serenidade. Seguiu, agora mais intrigante. Na agência do correio, aonde ia, se estampava fechada, e as portarias e vitrines sem os costumeiros guardas. Começou a perceber que os órgãos públicos, e as escolas, e as autarquias, e o setor privado, e o comércio e a indústria, estavam com a mesma cara do correio: triste e vazia. Agora se lembrava que as pouquíssimas pessoas que vira pelo caminho, algumas delas eram também como que terroristas à paisana. Não parou para perguntar nada, nem à moça que limpava um corrimão de escada em sua varanda. Em outras varandas e cozinhas americanas, viu pessoas a lavar as mãos e outras ainda a esfregá-las pelas ruas e jardins.  Apenas achou normal, mas um normal anormal.
Bacabal em quarentena: Rua Getúlio Vargas em 23.03.2020
E continuou seu caminho já de volta. Numa esquina cruzou com um veículo cheio de pessoas com roupas brancas parecidas enfermeiras e médicos. E lá mais longe uma ambulância ia lhe passar ao meio, se o sinal não abrisse logo. Aí foi que não quis perguntar mesmo. E não tinha mesmo a quem perguntar.

Sem cartas da caixa postal e com as mesmas cartas que levou, volveu o caminho de volta à chácara. Apesar de ser um dia enxuto e lindo, lhe parecia o mais bizarro de todos os seus dias. E era. Não se viam mais por ali crianças dantes catando flores, nem jovens e guris jogando pelada, nem mesmo os passantes de suas obrigações, só uma pessoa e outra na janela, isolada, e alguns velhos nas portas a jogar baralho e a falar qualquer coisa mortal ouvida na televisão. E seguiam no seu jogo, entre a vida e a morte com as cartas passando de mão em mão.

Não quis saber disso. Seguiu ao seu ninho. Adentrou seu recinto bucólico. Sentiu o sossego e a segurança de sua morada. Lembrou que tinha tevê. Correu direto a ela. Logo ouviu uma notícia que lhe fez lembrar do cenário deserto da cidade. Andou por todos os canais, nacionais e estrangeiros. A mesma coisa, a mesma notícia a correr o mundo.

Da cozinha vieram, apavorados, Carlindo e Joana com um radinho na mão:

— Sinhô Agá precisa ir lavar as mãos.

— Já andei sabendo disso, Joana!

— E também ficar em casa.

— Carlindo, “Gratias ago Deo”, temos como ficar em casa.

Precavido, Agamenon se asseou como dito na tevê, pegou caneta e papel, pediu mingau de aveia e encarcerou-se em sua própria casa, no seu arejado escritório, de onde nunca deveria ter saído.

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(Costa Filho, Sexta te conto, 2020, mar. 27)

quarta-feira, 25 de março de 2020

ACADEMIA BACABALENSE DE LETRAS: 19 ANOS PROSEANDO COM A CIDADE E POETIZANDO A VIDA


Abeelinos em 1ª sessão de posse e diplomação-12.05.2001
2001 >> 2020...
Um breve mergulho em nossa história


Tudo começou no final do ano 2000, quando alguns nomes ligados às Letras locais sentiram a necessidade da existência de uma instituição formal que congregasse esses poetas, escritores e literatos em geral, bem como imortalizasse nomes já consagrados da nossa literatura como o poeta Brasilino Miranda, o padre escritor João Mohana e nomes circunvizinhos como o do pedreirense João do Vale.

A ideia inicial acha apoio e repercussão nos bancos do curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), Campus do CESB, através de professores como Edelves Barros e Waltersar Carneiro, mestres por quem já tinham passado alguns acadêmicos de Letras, que mais tarde seriam membros da futura Casa Literária. Assim é que o poeta Zezinho Casanova, estimulado pelas teorias da universidade, ver um momento propício para a Literatura local se firmar como instituição. Para isso, o jovem literato leva a ideia a outros amigos congêneres.
Símbolos da ABL, um projeto de criação por Aline Freitas
Nesse cenário, destacam-se nomes como Costa Filho, já conhecido na cidade, que abraça a causa, tornando-se o “secretário-carteiro”, contribuindo na redação de documentos e entrega deles a poetas ainda não irmanados na causa. Nessa Comissão Pró-ABL, destacam-se, de modo pontual e assíduo, os primos Eduardo e Aline Freitas, que, com seu vasto acervo literário e experiências advindas da leitura, do Direito e de recitais na Capital foram de suma importância na elaboração do Regimento da instituição. Ela, ainda com 17 anos de idade, e não menos informada e habilidosa, se faz até então a primeira e talvez a única imortal de menor idade a adentrar às portas da ABL, graças à sua maturidade, seus múltiplos talentos e sua produção invejável. Seria dela a autoria dos símbolos da instituição. Já Liduína Tavares e Iraide Martins tiveram também relevante papel por suas experiências, quer pelo conhecimento da funcionalidade de grupos e instituições, quer pelo engajamento na área educacional ou artística, dando ao nascente grupo uma credibilidade alicerçada também no seu talento com a palavra-oratória e com a palavra-arte. Ao sábio e paciente Raimundo Sérgio, coube o aconselhamento em sua voz de tom baixo e o valor de suas trovas, muito bem organizadas. 
1ª sede da ABL, R. Rui Barbosa, Centro

Ao generoso Pedrenrique Coe, veio a natural incumbência pela mediação de conflitos, mas sobretudo, a disponibilidade de sua residência para as reuniões. Foi na Rua Rui Barbosa, na mesma casa onde morou seu patrono Almir Garcez Assaí, que funcionaria o primeiro endereço e sede da ABL. 
É entre poesia, leis, humor, percalços e contratempos, que, após muito embate e cerca de três meses de discussão em torno do tema, que esses e outros literatos, fundam, em 24 de março de 2001, a Academia Bacabalense de Letras, carimbando assim o surgimento formal da instituição ícone do ramo literário de Bacabal e região do Médio-Mearim. A posse, se dá em 12 de maio, quando 16 membros-fundadores se tornam os primeiros “imortais” das Letras bacabalenses.

Mas chegar a esse ponto nobre e histórico não foi tão simples. As origens de uma ABL, hoje com 19 anos, guardam um período curto de intensa luta, estresse físico, cansaço mental e embates diversos. No caminho de quem procurava se firmar, a instituição iria encontrar pedras e barreiras de ordem institucional, como ausência de quórum e assembleias frustradas; de ordem jurídica, como critérios de filiação, regimentos e até mesmo dúvidas sobre a nomenclatura oficial da instituição; de ordem pessoal, já que nem todos os poetas e escritores locais se dispuseram à luta ou não acreditaram na posposta; e de ordem política, visto que o poder público da época, por não entender os objetivos de uma Academia de Letras, terminou criando um embate velado entre a nascente instituição e governo local. 

"Casa Chagas Araújo", 2ª sede-ABL

Não obstante, a ABL venceu e se tornou, com orgulho, a maior representante de nossa cultura literata com objetivos apartidários de representar o povo e sua história através da prosa, do verso e do teatro, elevando os patronos da instituição e seus membros ao patamar de cátedros imortais, pelo título vitalício de fundador e posse numa das 40 Cadeiras efetivas, ou numa das 15 poltronas para membros não nascidos ou residentes em Bacabal, mas que, sendo poetas ou escritores e morando em qualquer lugar, venham a se filiar.Apesar de em sua trajetória, a ABL ter caminhado sem a devida visibilidade que a instituição merece, ela sempre esteve viva, está viva e assim continuará, imortal como seus membros. É certo que muitos bacabalenses ainda não têm ou têm pouco conhecimento sobre essa Casa Literária, ainda um tanto anônima e sem sede própria, mas com status "on" permanente daquilo que a define melhor: a criação literária. Assim é que seus membros, além de nunca pararem de produzir, ao longo desses 19 anos, têm participado de modo individual, coletivo, representativo ou institucional de recitais, encontros, fóruns, conselhos, mostras, exposições, lançamentos, sessões públicas e cerimoniais da própria instituição e junto a outras academias e instituições afins. 
A ABL já publicou duas coletâneas com amostras da produção de seus membros (2005 e 2015) e uma terceira, a "Coletânea do Centenário" está no prelo da editora e no aguardo de seus membros para ser lançada brevemente.
Atualmente, em seu quadro de filiados, a ABL conta com 25 membros efetivos e três correspondentes; e, de todos os membros, cinco “in memoriam” e três Cadeiras em vacância. 
Já estiveram à frente da instituição, no cargo de presidente: Francisco José da Silva (Zezinho Casanova; João Batista da Costa Filho; Cláudio Henrique Pacheco Cavalcante, bem assessorado por sua vice Aline Freitas Piauilino; e Liduína Francisca Tavares de Sousa Lima, cada um deixando seu legado de esforço e trabalho.  
Relação de membros efetivos e patronos, mar./2020
Relação de membros correspondentes e patronos, mar./2020
Para se filiar à ABL e preencher uma de suas poltronas, o literato se inscreve por meio de edital, depois do que sua obra será analisada por uma Comissão de Parecer da própria Casa, considerando conteúdo, forma e originalidade literária, ou seja, o não plágio. Alcançando unanimidade nos pareceres, o pleiteante é notificado, marcando-se a sua posse como imortal.  
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(Costa Filho, membro-fundador da ABL, Cadeira 2)